Especialização, MBA ou Mestrado: meu aprendizado contínuo na carreira

Eu fiz um reposicionamento de carreira e definitivamente a pós-graduação foi diferencial para eu conseguir meu primeiro emprego em marketing digital, saindo da produção de eventos culturais e venda em galeria de arte. Atualmente, estou plantando sementes para que o aprendizado contínuo auxilie na progressão da minha carreira em marketing.

Um pouco sobre os diplomas e instituições que estudei

Para dar contexto ao meu relato, listo aqui quais foram os cursos formais que me graduei em ordem cronológica:

  • Graduação em Artes Visuais na Universidade de Brasília, de 2008 a 2012
  • Graduação em Educação Artística na Universidade de Brasília, de 2012 a 2014
  • Especialização em Produção Cultural no Senac, de 2017 a 2018
  • MBA em Gestão de Marketing na ESPM, de 2017 a 2019
  • Especialização em Projetos no Senac, de 2020 a 2021
  • Aluna especial na pós-graduação stricto sensu em Administração na Universidade de Brasília, de 2022 a 2023

É a partir dessa experiência que gostaria de compartilhar sobre as diferenças entre os cursos, como eles auxiliaram na minha progressão de carreira e como você pode aproveitar ao máximo se decidir por alguma dessas modalidades.

Não poderia ser só curso livre e certificados menores?

Então… meio que eu faço sempre as duas opções, cursos longos e curtos, para meu aprendizado contínuo. Eu exploro uma área com certificados menores e preferencialmente gratutitos antes de ingressar em cursos que exigem longo período de esforço.

Acredito que só cursos menores, não são capazes de uma diferenciação em vagas com alta concorrência. Ouvir podcast, participar de eventos e buscar certificados das ferramentas mais comuns da sua profissão é o mínimo.

Na minha carreira, só me exigiram certificados quando eu era bem iniciante. Atualmente eu tiro certificados das ferramentas só para garantir que estou trabalhando com as práticas atualizadas, mas geralmente já estou aplicando no meu dia-a-dia do trabalho.

Para contratação, o certificado tem de vir com experiência real de mercado para ser um diferencial.

Então, para dar o próximo passo, primeiro é procurar no Linkedin por perfis que você acha interessante e ir anotando quais cursos essas pessoas fizeram. Depois é priorizar por tempo e recursos necessários, deixando especializações para último recurso.

Na graduação vi um monte de coisa que não aplico no trabalho, então pra quê fazer pós?

Mas é muita teoria e o mercado quer prática!

Eu reconheço que existe sim uma dicotomia, mas para mim é mais um discurso que romantiza pessoas que largam universidade ou fazem carreira sem ter passado tantos anos na escola.

Na minha visão, estudar antes de praticar vai evitar que você erre com coisas que muitas pessoas já erraram, atingindo resultados com mais velocidade. Errar é inevitável, mas errar por bobagem não rola.

E ainda temos muitos dados sobre como educação e sucesso na carreira estão relacionados. Quer “pesquisam apontam”? Então aqui estão algumas:

  • Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2019 mostrou que em média, em todos os países da OCDE, os trabalhadores com ensino superior ganham cerca de 56% mais do que aqueles que têm apenas o ensino médio completo.
  • O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou um estudo em 2018 que mostrou que, no Brasil, o salário médio de trabalhadores com nível superior completo é 144% maior do que o salário médio de trabalhadores com ensino médio completo.
  • Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2020 indicou que, no Brasil, a diferença salarial entre trabalhadores com ensino superior completo e aqueles com ensino médio completo é de cerca de 2,5 vezes.

Essa pesquisas evidenciam que há uma relação entre escolaridade e salário, dados que foram base para a criação de programas de financiamento público, como o FIES, para acelerar o ingresso de pessoas no nível superior.

Além disso, pegando agora para o lado das humanas, grandes pensadores da cultura ocidental também questionaram a relação entre teoria e prática:

  • Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.): Para Aristóteles, a teoria e a prática não são dicotômicas, mas sim interdependentes. Ele acreditava que a teoria deveria fornecer um conhecimento geral e abstrato sobre a realidade, enquanto a prática deveria fornecer o conhecimento específico sobre o mundo real e suas particularidades.
  • Immanuel Kant (1724 – 1804): Kant acreditava que a teoria e a prática são complementares e interdependentes, e que ambas são necessárias para uma compreensão completa da realidade. Ele enfatizou a importância da razão e da experiência na busca do conhecimento.
  • John Dewey (1859 – 1952): Dewey acreditava que a teoria e a prática são interdependentes e que a educação deveria se concentrar na integração desses dois aspectos. Ele propôs um modelo educacional que enfatiza a aprendizagem prática e a experimentação como meio de adquirir conhecimento e habilidades.
  • Hannah Arendt (1906 – 1975): Arendt acreditava que a teoria e a prática são distintas, mas que cada uma tem sua própria importância. Ela argumentava que a teoria é necessária para a reflexão crítica e o julgamento, enquanto a prática é necessária para a ação e o engajamento com o mundo.
  • Michel Foucault (1926 – 1984): Foucault estudou a relação entre poder e conhecimento, argumentando que a teoria e a prática são moldadas pelo poder e pelas relações de poder na sociedade. Ele enfatizou a importância de questionar e desafiar as relações de poder que moldam nossas concepções de teoria e prática.

Então já vimos que as coisas andam juntas. Poderia dar exemplos de como lido com isso no dia-a-dia mas aí é um novo tópico.

Qual é a melhor opção para minha carreira?

As restrições de tempo e dinheiro são crueis…

Eu super indico a modalidade EAD em instituições de ensino que possuem cursos presenciais e/ou possuem bom renome no mercado. Eu já fui fisgada por cursos em instituições que só trabalham com EAD, gastei R$2.000 e não valeu a pena. É importante que a instituição tenha preocupação com a metodologia de ensino e também possa trazer mais autoridade para seu curriculo por ser conhecida no mercado.

Há exessões para a minha regra? Sim, existem cursos um pouco mais longos e caros que eu faria, mas esses são muito mais pelo networking do que o conhecimento, sinceramente. Afinal, eu já tenho especializações bastante formais.

No final das contas, a melhor opção sempre será aquela que você consegue se dedicar e financiar sem grandes dívidas.

Você é iniciante ou pleno?

A maturidade na carreira dita muito. Na minha experiência, ter cursos de especialização me fizeram destacar muito entre as pessoas que só tinham graduação e compensou o fato deu ter mudado de área. Agora que já tenho por volta de 10 anos de mercado de trabalho, fazer MBA ou especialização já não seria algo tão relevante. Percebo como as capacidades interpessoais são muito mais valorizadas, junto com um networking bacana para ser indicada nas boas oportunidades.

Como posso aproveitar ao máximo meus estudos?

Aprendizagem é mais do que conhecimento, mas networking e autoridade.

Como comentei, equilibrar estudos e trabalho será um desafio sem receita de bolo para lidar. Aqui eu tenho alguns posts falando sobre produtividade com ferramentas que me ajudam quando a coisa tá puxada. No geral, é importante disponibilizar ao menos 4 horas de estudos extras a carga horária do curso.

Essas horas são impotantes para leituras e também garantir que você conseguirá participar de fórum, se em EAD, ou engajar com trabalhos em grupo se cursos presenciais. Conhecer as pessoas é muito importante, assim como buscar manter contato com quem você tem mais afinidade. Em cursos, eu já consegui contatos de pessoas trabalhando em multinacionais que me deram dicas sobre vagas ou vivaram leads para serviços de empresas que eu estava trabalhando.

Agora um pouco da minha experiência nesses cursos

Graduação em Artes Visuais e mudança de carreira

Eu poderia considerar o fato deu ter mudado de carreira uma evidência de como a graduação falhou na minha vida. Eu ter escolhido Artes Visuais teve seus prós e contras como qualquer outro curso.

Eu tive o privilégio de poder me dedicar integralmente aos estudos durante boa parte da graduação. Isso me possibilitou complementar minha grade curricular com estudo de línguas, como o francês, e explorar outras áreas das humanidades como a sociologia, filosofia e economia política.

Então, eu julgo ter aproveitado a oportunidade que o ingresso em uma universidade pública pode dar: a diversidade de matérias de cursos que você pode escolher, especialmente o curso de Artes visuais da Universidade de Brasília, que tem a proposta de currículo flexível. Você precisa cumprir boa parte dos créditos necessários para se formar com matérias de módulo livre, porque há entendimento do curso proporcionar autonomia para o estudante.

A parte ruim foi justamente esse privilégio. Ter o apoio dos meus pais para complementar o que eu ganhava com freelas me fez não ter urgência de me manter fixo em emprego ou estágio logo no início da graduação. Depois de uns 3 anos, eu trabalhei com mais frequencia com fotografia, tatuagem e produção de eventos, além de uma bolsa de pesquisa em arte e tecnologia. Ainda assim, não ter uma relação de dependência me tirou o foco em alguns momentos.

Meu pai mesmo me disse que era o momento de explorar as oportunidades para encontrar aquilo que mais me agradava, mas com tempo e maturidade, percebi que algumas coisas a gente consegue prever pensando, refletindo; planejar em vez de só sair fazendo.

Especialização e pós-graduação

Tanto a especialização quanto o MBA tiveram uma dinâmica muito parecida. Ao menos nos que cursei, a diferença maior era a carga horária. Enquanto curso de especialização dura ano, ano e meio; o MBA chega a dois anos. O trabalho final é bem parecido e a metodologia de ensino envolve aulas e leitura como na graduação. A modalidade EAD é consideravelmente mais acessível e na ESPM as aulas são síncronas e ao vivo na parte da noite. Cursávamos cerca de 2 a 3 matérias a cada 2 meses. Eu perdi um pouco a oportunidade de fazer networking, mas a principal finalidade desses cursos era aumentar minha empregabilidade pela diferenciação no meu currículo (tanto que consegui meu primeiro emprego em agência de marketing digital ainda no primeiro ano do MBA). Hoje em dia, busco me tornar mais conhecida entre colegas de profissão e o curso presencial acabaria sendo mais vantajoso.

Em todos os cursos, eu aproveitei bastante a aplicabilidade do que aprendi, mesmo com a produção cultural que eu não trabalho mais. A gestão de projetos é um bom exemplo, porque trabalha bastante os processos de qualquer time do dia a dia. Na especialização eu aprendi o formato padrão de qualidade mundial de gestão de projetos. Eu não aplico tal qual porque no dia-a-dia muitos processos acontecem de maneira informal, sem documentação.

Mas quando a informalidade não está funcionando e é preciso começar a criar rigidez de processo para conseguir escalabilidade, eu tenho uma ótima base para personalizar o que aprendi conforme as necessidades do contexto.

Aluna especial na pós-graduação em Administração na UnB

Na pós-graduação Strico Sensu, eu fui aluna especial. Ou seja, cursava as matérias sem ter feito o processo de seleção. Ao todo cursei cinco matérias, cerca de 70% da quantidade de créditos do aluno regular. As matérias eram de 4 horas presenciais de aula e uma carga horária de leitura que facilmente ultrapassa mais 4 horas. Justamente pela densidade de conteúdo que não me arrependo de ter priorizado cursar nessa modalidade, ainda que seja mais informal.

Outra vantagem é que é intenso, mas dura somente 3 meses e você paga R$404 reais por matéria. Entretanto, raramente há modalidade EAD, então sem um campus na sua cidade, pode ficar inviável. Novamente, equilíbrio entre tempo e dinheiro, né?

No mestrado e doutorado há uma grande mudança na dinâmica de aula. Os textos não são de livros, mas de artigos recentes sobre o tema. O objetivo é te formar como cientista e pesquisador ou pesquisadora da sua área de atuação.

Consequentemente, mesmo como aluna especial, adquiri uma noção muito mais profunda sobre metodologia científica, estatística e coleta de dados. Ainda que marketing seja uma área de pesquisa em humanas aplicadas, para ser aluno regular é desejável conhecimento em análise de dados em R e entender o perfil editorial das revistas.

É bem puxado, mas uma matéria de 60h me deu ferramental e senso crítico que equivalem a 1 ano de MBA.

Todas as matérias tiveram alta aplicabilidade no dia-a-dia, porque os artigos são, em sua maioria, bem contemporâneos. É comum que as primeiras leituras serem de artigos seminais que datam década de oitenta ou noventa, mas as discussões giram em torno de publicações da última década.

Um exemplo de aplicabilidade é do comportamento do consumidor, em que falávamos sobre a experiência de consumo e satisfação do consumidor. Aprendemos que esses dois pontos, muitas vezes quando visto aplicado no mercado de trabalho, ele se confundem. Aprendemos como isso pode gerar dados ruins para a tomada de decisão e aumenta a probabilidade de prirorizar ações que não gerarão impacto no que deseja ser melhorado.