Buster’s Mal Heart para quem cansou do sistema

Buster's Mal Heart, drama surreal de Sarah Adina Smith com Rami Malek
Buster's Mal Heart, drama surreal de Sarah Adina Smith com Rami Malek

Buster é um ermitão que vive nas montanhas durante o verão e invade casas para sobreviver ao inverno. Ele também é Jonah, um pai de família cansado por trabalhar no turno noturno de um hotel. Seu encontro com o autoproclamado “último homem livre” o coloca a par da conspiração Inversão, quando tudo mudará de sentido.

O mistério surreal de 2016 foi escrito e dirigido por Sarah Adina Smith. É estrelado por Rami Malek, DJ Qualls e Kate Lyn Sheil. Teve sua estréia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 11 de setembro de 2016.

Minha interpretação

Bebendo da fonte de Matrix e Clube da Luta, me surpreendeu que essa drama surreal tenha sido escrito e dirigido por uma mulher. O motivo eu coloco em segredo caso você ainda não tenha visto o filme. O roteiro é bem aberto a interpretações e sugiro ter uma primeira impressão sem pré-concepções.

Spoiler a seguir…

Pois bem, minha surpresa é por interpretar a proposta do filme como uma crítica ao papel do homem nas forças de manutenção do sistema. Ele, antes envolvido com drogas, foi “salvo” por uma mulher religiosa, com quem teve uma filha. Reinserido no sistema, trabalha para poder comprar um lote de terra e criar a família num local onde o traria mais autonomia. Entretanto, não há dinheiro para isso. Todos os elementos que sustentam o sistema estão lá: a personagem principal é um homem, a religião formou a família, o dinheiro e o trabalho são gatilhos para uma conspiração. Mas nada disso tem fundamento com a real natureza da personagem principal. O desejo reprimido de que os valores sociais deveriam ser invertidos leva Jonah a assassinar sua família para se libertar. Um homem liberto de seu papel social inverte os valores do sistema.

Um breve adendo, sutil a crítica proposta pelo fato dele fazer questão de ensinar espanhol para a filha.

Trailer

    1. Ótimo apontamento! Realmente a edição do filme busca essa sensação de paralisia temporal a medida que a tensão psicológica vai aumentando.

  1. Parei pra ler sua interpretação quando você comparou esse filme à Matrix e acho que segue exatamente por essa linha…somado à Donnie Darko e outros filmes que tratam de quebras no espaço-tempo. Entendi que houve de fato uma falha no sistema e que o The Last Free Man precisou consertar – ele fala sobre se livrar de bugs e, nesse caso, era especificamente a família que o Jonah/Buster formou na linha do tempo “errada”, quando seguiu pra esquerda na bifurcação após o funeral da esposa. A outra linha do tempo, quando ele seguiu o caminho da direita, o levou para o mar “eu sempre quis pescar no oceano”. Nisso, foi preciso eliminar as duas linhas temporais existentes – de forma que nem o Ermitão nem o Náufrago existissem – criando assim uma terceira linha do tempo, que o sistema considerou ideal para que o protagonista não mais se rebelasse: apenas o próprio Jonah, deitado na areia da praia, enquanto sua esposa e filha brincam no plano de fundo (última cena).

    1. Obrigada por compartilhar a interpretação, seu comentário me deu vontade de ver o filme novamente. Eu acabei seguindo muito mais a linha social e psicológica, com alter egos. Mas é por isso que eu super recomendo esse filme, a narrativa se completa levando em consideração a nossa experiência individual. Até hoje não tinha buscado alguma explicação da própria diretora e encontrei uma entrevista bem longa sobre o filme aqui.

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